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O que você precisa saber sobre Contribuições Previdenciárias e Verbas Indenizatórias

Publicado por TAXCEL em novembro 30, 2020novembro 30, 2020

1. Introdução

Uma das questões que levou muitos contribuintes ao judiciário foi a incidência de contribuições sobre a folha de salários sobre verbas consideradas indenizatórias ou não salariais.

A discussão parte da premissa de que as contribuições sobre folha somente podem incidir sobre valores pagos aos trabalhadores que efetivamente tenham caráter salarial. E salarial seriam somente os valores devidamente pagos em contraprestação ao serviço realizado ou posto à disposição.

Diante disso, como sabem os profissionais que lidam com folhas de salários, há diversas verbas pagas a trabalhadores que claramente não são salariais, ao passo que há outras que geram dúvidas até para os especialistas. Como exemplos, que abordaremos mais para frente, podemos citar aviso prévio indenizado, auxílio doença, descanso semanal remunerado e muitos outros.

Já há algum tempo, a posição do Fisco vinha se firmando no sentido de que todos esses valores seriam tributáveis, independentemente de uma análise mais detida de suas naturezas. Foi justamente esse entendimento que levou os contribuintes a ingressarem com diversas ações.

As teses já não são mais novidade, mas as decisões judiciais que foram moldando os entendimentos sobre o tema tiveram idas e vindas.

Esse guia vai abordar o histórico das discussões, as decisões mais relevantes e que ainda prevalecem, o entendimento da Receita Federal sobre tais decisões e, por fim, as questões que ainda precisarão ser resolvidas e que geram incertezas aos contribuintes.

2. Quais as verbas normalmente discutidas e qual a posição atual sobre cada uma delas?

Não há uma fórmula única de verbas que normalmente são discutidas pelas empresas no judiciário, até porque algumas verbas podem não ser pagas em valores relevantes a depender da empresa, de forma a inexistir interesse econômico para discutir as contribuições sobre elas.

No entanto, podemos dizer que praticamente todos os contribuintes que levaram a discussão ao judiciário inseriram em suas ações questionamentos sobre o terço constitucional de férias, aviso prévio indenizado e auxílio doença. Vamos tratar mais detalhadamente cada um desses itens.

Também, recentemente, o Supremo Tribunal Federal exarou uma relevante decisão sobre o salário maternidade, que abordaremos detalhadamente a seguir.

Por outro lado, sabemos que muitas empresas ingressaram com ações questionando verbas como descanso semanal remunerado, horas extras, adicional de horas extras, adicional de insalubridade, adicional de periculosidade, estabilidade de membros de comissão interna de prevenção de acidentes (CIPA). São muitos exemplos de verbas discutidas, mas não focaremos em cada uma delas, já que as decisões tem sido, em sua expressiva maioria, desfavoráveis.

Passemos, então, às verbas que vamos abordar.

  1. Terço Constitucional de Férias

O terço constitucional de férias, como mencionado, costuma ser discutido em praticamente todas as ações que trataram das contribuições previdenciárias sobre verbas indenizatórias.

A incidência das contribuições sobre a referida verba contou com julgados favoráveis dos tribunais por muitos anos.

Inclusive, o Superior Tribunal de Justiça, pode meio de sua 1ª Seção (que reúne as turmas de direito público), já havia definido a não incidência das contribuições sobre o terço constitucional de férias, no Agravo Regimental no Recurso Especial nº 1.062.530, julgado em 2010. Ou seja, há mais de dez anos vinha se firmando entendimento sólido no sentido de que não haveria a incidência das contribuições sobre terço constitucional de férias.

No entanto, dez anos depois, em agosto de 2020, a questão chegou ao Supremo Tribunal Federal, que reformou o entendimento anteriormente firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, definindo que as contribuições previdenciárias poderiam incidir sobre o terço constitucional de férias. O julgado em questão foi o Recurso Extraordinário nº 593.068. Nesse caso, apenas o Ministro Edson Fachin votou contra a incidência.

Considerando o tempo que a decisão em sentido contrário prevaleceu (afastando a incidência), atualmente se vislumbra a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal modular os efeitos de sua nova decisão, permitindo que a não incidência prevaleça até essa decisão atual.

No entanto, até isso acontecer, os contribuintes que deixaram de pagar as contribuições sobre o terço constitucional de férias podem ser cobrados dos cinco anos anteriores.

Por outro lado, em relação aos contribuintes que já tenham decisões judiciais transitadas em julgado afastando a incidência, caberia ao Fisco propor ação rescisória, de forma que a decisão do Supremo Tribunal Federal não afetaria, de pronto, esses contribuintes.

  • Aviso Prévio Indenizado

O aviso prévio também foi bastante discutido perante o judiciário nas ações que tinham por objeto a incidência de contribuições previdenciárias.

Já há muitos anos, pode-se dizer que a maioria esmagadora dos precedentes era favorável aos contribuintes.

A principal decisão no assunto se deu no Recurso Especial nº 1.230.957/RS, julgado pelo Superior Tribunal de Justiça sob o rito dos recursos repetitivos, em que restou definida a não incidência das referidas contribuições.

A partir dessa decisão, se multiplicaram diversas outras no mesmo sentido, sempre favoravelmente aos contribuintes. Isso levou até mesmo a Receita Federal do Brasil a reconhecer a não incidência da contribuição previdenciária patronal sobre o aviso prévio indenizado, conforme Solução de Consulta COSIT nº 249/2017.

No entanto, a Receita Federal e Procuradoria da Fazenda Nacional reconheciam a não incidência somente da contribuição previdenciária patronal, excluindo, portanto, desse reconhecimento, as contribuições a entidades terceiras e do SAT/RAT.

Posteriormente, a 1ª e 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça passaram a exarar decisões específicas sobre a não incidência das contribuições de terceiro e do SAT/RAT sobre o aviso prévio indenizado. Isso  levou a Procuradoria da Fazenda Nacional a exarar novo entendimento, reconhecendo, então, a não incidência também dessas contribuições sobre o aviso prévio indenizado.

Também, o Supremo Tribunal Federal rejeitou recursos fazendários sobre a questão, por entender que a questão não seria constitucional.

Ou seja, considerando todo esse cenário, com decisão do Superior Tribunal de Justiça favorável, decisões do Supremo entendendo que a questão não é constitucional e até mesmo reconhecimento da Receita Federal e Procuradoria da Fazenda, atualmente pode-se considerar seguro o entendimento de que não incidem contribuições previdenciárias sobre aviso prévio indenizado.

  • Auxílio Doença

O mesmo recurso repetitivo que tratou do aviso prévio indenizado, Recurso Especial nº 1.230.957/RS, também tratou da incidência das contribuições sobre o auxílio doença, aquele pago ao funcionário nos primeiros quinze dias de afastamento por doença.

Nesse julgado, o Superior Tribunal de Justiça definiu que as contribuições previdenciárias não incidem sobre o auxílio doença.

A Procuradoria da Fazenda tentou recorrer ao Supremo Tribunal Federal, mas este entendeu que a questão seria de cunho infraconstitucional, barrando, assim, os recursos do Fisco.

Ainda há uma expectativa por parte do Fisco de reverter esses julgados no Supremo, apesar de a chance, atualmente, estar bastante remota.

Apesar da atual vitória dos contribuintes na matéria, o Fisco mantém seu entendimento de que as contribuições incidem sobre os valores pagos nos quinze dias que antecedem o auxílio doença, como ocorrido na Solução de Consulta COSIT nº 292/2019. Isso porque a decisão do Superior Tribunal de Justiça, por si só, não vincula a Receita Federal do Brasil.

Assim, é razoavelmente seguro entender que vai prevalecer o entendimento de que as contribuições não incidem sobre os valores pagos nos quinze primeiros dias que antecedem o auxílio doença, mas os contribuintes que deixarem de recolher possivelmente serão questionados pelas autoridades fiscais.

  • Salário Maternidade

Uma verba que teve novidades relevantes no ano de 2020 foi o salário maternidade. Em relação a essa verba, as empresas alegavam que não se trataria de contraprestação ao trabalho, eis que presumiria justamente o afastamento das funções laborais.

A questão chegou ao Supremo Tribunal Federal, que reconheceu a repercussão geral da matéria (tema 72). Em agosto de 2020, o Supremo julgou o Recurso Extraordinário nº 576.967, reconhecendo a inconstitucionalidade da cobrança de contribuição previdenciária patronal sobre o salário maternidade.

A União opôs recursos que ainda aguardam julgamento, mas o precedente se demonstrou bastante relevante para as empresas.

Atualmente, a decisão não vincula qualquer órgão da administração federal, como a Receita Federal do Brasil ou a Procuradoria da Fazenda.

No entanto, tem-se um relevante precedente na matéria, que dá segurança para contribuintes discutirem judicialmente a questão ou deixarem de efetuar o recolhimento (nesse caso, com risco de questionamentos).

3. Tema 20 do Supremo Tribunal Federal

Um ponto que ainda representa risco de revés nas vitórias dos contribuintes foi a decisão exarada pelo Supremo Tribunal Federal quando do julgamento do Recurso Extraordinário nº 565.160 (Tema 20).

Nesse processo, não se discutiu propriamente a incidência de contribuições previdenciárias sobre as verbas mencionadas. O objeto da discussão foi a incidência sobre verbas como adicionais de periculosidade e insalubridade, gorjetas, prêmios, adicionais noturnos, ajudas de custo e diárias de viagem (excedentes a 50% do salário recebido), bem como as comissões e quaisquer outras parcelas pagas habitualmente.

Analisando a questão, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a repercussão geral do tema e delimitou a discussão sobre a abrangência da expressão “folha de salários”, contida no art. 195, I, da Constituição Federal (que dá suporte à cobrança da contribuição patronal).

Diante da delimitação da questão, o Supremo Tribunal Federal fixou a tese de que “a contribuição social a cargo do empregador incide sobre ganhos habituais do empregado (…)”.

Como se percebe, o verbete foi bastante amplo e poderia ensejar a tese de que as verbas acima mencionadas estariam dentro do conceito de “folha de salários” e seriam, assim, tributáveis.

No entanto, o verbete conferiu segurança aos contribuintes ao restringir sua aplicação às verbas habituais. Por sua natureza, o salário maternidade, aviso prévio indenizado e auxílio doença não são habituais, sendo verdadeiramente pagas excepcionalmente.

Assim, em relação a essas verbas, pode-se dizer que o decidido no Tema 20 não interfere. Em relação a todas as demais verbas habituais, são fortes os argumentos para entender que o decidido no Tema 20 é no sentido de permitir a tributação.

Categorias: Legislação e Jurisprudência

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Malha Fiscal Digital: Receita Federal notifica mais de 5 mil empresas por divergências em IRPJ/CSLL 

Em setembro de 2025, a Receita Federal lançou uma nova edição da ação de conformidade focada em IRPJ e CSLL. Nesta operação, foram emitidos avisos de autorregularização para mais de 5.500 empresas, com divergências totais na casa de R$ 3,6 bilhões. A iniciativa integra a Malha Fiscal Digital (MFD), que cruza dados declarados pelas próprias pessoas jurídicas e por terceiros para orientar a autorregularização. O alvo principal são situações em que a empresa apurou IRPJ/CSLL a pagar na ECF, mas não declarou corretamente na DCTF/DCOMP ou não recolheu os valores devidos. Os avisos são enviados via postal e pela Caixa Postal do eCAC; para contribuintes sob monitoramento de maiores contribuintes, as mensagens seguem também pelo eMAC. O prazo para regularização vai até 31/10/2025. 

O que é a Malha Fiscal Digital (MFD) 

A Malha Fiscal Digital de IRPJ/CSLL é um procedimento de auditoria eletrônica que compara o imposto apurado na ECF com o que foi declarado na DCTF e com valores compensados via PER/DCOMP. Quando há diferenças relevantes entre apuração, declaração e pagamento, o contribuinte recebe um Aviso de Autorregularização para ajustar as informações espontaneamente, sem autuação imediata. 

Quem está na mira da Receita Federal 

Empresas de todos os portes e setores que apresentaram inconsistências entre ECF e DCTF/DCOMP ou que não recolheram os valores devidos parcial ou totalmente. A ação alcança regimes de Lucro Presumido e Lucro Real. 

Como funciona a autorregularização 

Ao receber o aviso, a empresa tem a oportunidade de corrigir as pendências dentro do prazo, sem multa de ofício. Basta revisar e, se necessário, retificar a ECF e a DCTF, além de efetuar os recolhimentos ou compensações cabíveis. Após o prazo, a Receita reprocessa as bases e, se a divergência persistir, inicia o procedimento de autuação. 

Prazo e consequências 

O prazo para autorregularização termina em 31/10/2025. Depois disso, os contribuintes que não se ajustarem estarão sujeitos à lavratura de autos de infração para constituição do crédito tributário, com acréscimos legais (juros de mora e multa de ofício). 

Como regularizar a situação: passo a passo 

1) Revisar a ECF 

Confira a ECF do período: bases, receitas e cálculos do IRPJ/CSLL. Se houver erro de preenchimento ou apuração, transmita uma ECF retificadora. 

2) Conferir a DCTF/DCOMP 

Garanta que os débitos de IRPJ e CSLL apurados na ECF constem corretamente na DCTF, com os códigos de receita adequados e com pagamentos/compensações vinculados. 

3) Regularizar os pagamentos 

Calcule eventuais diferenças com acréscimos legais e efetue o pagamento (DARF) ou, se aplicável, formalize a compensação/parcelamento conforme as regras vigentes. 

Como evitar cair na malha fiscal digital 

  • Realize conciliações periódicas entre ECF, DCTF e pagamentos/compensações antes de transmitir as obrigações. 
  • Padronize processos e versões de planilhas/arquivos para minimizar erros de digitação e divergências de base. 
  • Monitore a Caixa Postal do eCAC e responda rapidamente a alertas e comunicados. 
  • Use tecnologia para automatizar validações e cruzamentos, reduzindo risco de inconsistências. 

Ferramentas da Taxcel que aceleram a conformidade 

Editor de SPED (TaxSheets) 

O Editor de SPED da Taxcel (TaxSheets) ajuda a importar, revisar e ajustar arquivos da ECF com validações e checagens que destacam possíveis inconsistências antes do envio. Isso reduz retrabalho e previne divergências entre apuração contábil e declarações. 

Saiba mais: https://taxcel.com.br/taxsheets/ 

TaxDashs (BI tributário) 

O TaxDashs consolida informações fiscais em painéis e relatórios para apoiar cruzamentos e acompanhamento de conformidade. É possível integrar dados como ECF, DCTF, EFDContribuições, NFe e outras fontes, gerando alertas e indicadores que ajudam a detectar anomalias de forma rápida e visual. 

Conheça o TaxDashs: https://taxcel.com.br/taxdashs/ 

Próximos passos 

Se sua empresa recebeu o aviso  ou se você deseja prevenir divergências , revise ECF e DCTF, regularize pendências e adote ferramentas que tragam visibilidade e controle. Com o TaxSheets e o TaxDashs, você reduz riscos, ganha agilidade e mantém o compliance em dia. 

Carreira na Área Fiscal

Comitê gestor do IBS

Comitê gestor do IBS: qual sua função e relevância?

No contexto da reforma tributária, tema que foi bastante tratado no nosso blog (leia aqui, por exemplo: Reforma tributária – quais os principais pontos?, Impactos da reforma tributária na apuração de impostos pelas empresas brasileiras, Reforma tributária e contencioso fiscal – quais as perspectivas do contencioso?), um ponto importante é a criação do comitê gestor do IBS. Apresentaremos as principais características deste comitê no presente artigo, acompanhe.

O que é o Comitê Gestor do IBS e quais suas principais atribuições?

O Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (“CG-IBS”) é um órgão que tem como principal função estabelecer a coordenação do IBS. Apenas para lembrar, com a reforma tributária, serão extintos o Imposto Sobre Serviços (ISS), de competência municipal, e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de competência estadual, e ambos serão substituídos pelo IBS. Neste sentido, é necessário que haja um órgão especial destinado a coordenar as funções relacionadas, principalmente, à arrecadação de forma centralizada do IBS.

A competência para a instituição do IBS foi atribuída, pela Emenda Constitucional nº 132/2023, aos Estados, Municípios e ao Distrito Federal. Tratando-se, pois, de uma competência tributária compartilhada, os entes federativos deverão exercer a competência administrativa deste tributo de forma integrada e conjunta, daí a relevância do CG-IBS.

O Ato Declaratório Executivo da Coordenação de Cadastro e Movimentação de Pessoal (COCAD) nº 12/2025 instituiu a natureza jurídica do CG-IBS, informando tratar-se de entidade pública sob regime especial.

O CG-IBS, por determinação constitucional e de lei complementar, atua sem vinculação, tutela nem subordinação a qualquer outro órgão da administração pública (daí a denominação de entidade pública sob regime especial). O comitê deve observar o princípio da publicidade e disponibilizar seus atos normativos preferencialmente por meio eletrônico.

O CG-IBS terá, ainda, a função de editar um regulamento único do IBS, o que será bastante relevante no sentido de promover segurança jurídica. Será, também, responsável pela arrecadação centralizada, como já mencionado, devendo promover ressarcimento mais ágil de eventuais créditos que possam ser acumulados pelos contribuintes.

De acordo com a LC 214/2025, o regulamento do IBS deverá conter previsão relativa às regras uniformes de conformidade tributária, de orientação, de autorregularização e de tratamento diferenciado a contribuintes que atendam a programas de conformidade do IBS estabelecidos pelos entes federativos.

A lei ainda faz importante previsão no que diz respeito às administrações da CBS, de competência federal, e ao IBS, ao estabelecer que o CG-IBS, a Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional poderão implementar soluções integradas para a futura administração e a cobrança do IBS e da CBS. Se implementadas, estas soluções integradas poderão significar relevante avanço no sentido de facilitar não apenas o pagamento dos tributos devidos pelas empresas, mas, principalmente, o cumprimento das obrigações acessórias previstas na legislação, bem como a segurança jurídica relativamente ao IBS e a CBS.

Criação do CG-IBS

A Lei Complementar nº 214/2025 (“LC 124/2025”) instituiu provisoriamente, até 31 de dezembro de 2025, o CG-IBS, entidade pública com caráter técnico e operacional sob regime especial, com sede e foro no Distrito Federal, dotado de independência técnica, administrativa, orçamentária e financeira.

É necessário, portanto, que o comitê seja criado de maneira definitiva ainda este ano, já que a LC 214/2025 instituiu seu funcionamento de forma temporária, somente até o último dia do ano de 2025.

A criação de forma definitiva depende ainda da aprovação do Projeto de Lei Complementar nº 108/2024, atualmente em tramitação no Senado.

A instituição provisória se deu, inclusive, para que fosse possível a destinação prevista na Lei Complementar nº 214/2025 de R$ 50 milhões por mês para instituição de sistemas relativos ao IBS.

Conselho Superior do CG-IBS

A LC 214/2025 estabeleceu, ainda, que o Conselho Superior do CG-IBS é a instância máxima de deliberação do CG-IBS, devendo ser composto por 27 membros representantes de cada Estado e do DF, indicados pelo Chefe do Poder Executivo de cada Estado e do DF; e 27 membros representantes do conjunto de Municípios e do DF, indicados pelos Chefes dos Poderes Executivos dos Municípios e DF, a serem eleitos na forma determinada pela lei.

Ainda de acordo com o disposto na lei, os membros do Conselho Superior do CG-IBS deverão ser escolhidos dentre cidadãos de reputação ilibada e notório conhecimento em administração tributária, além de outras condições previstas legalmente.

Atualmente, no funcionamento provisório, o Conselho Superior iniciou suas atividades apenas com os 27 representantes dos Estados e do DF, já que os Municípios ainda não elegeram seus representantes para participação no Conselho Superior.

Financiamento do CG-IBS

A LC 214/2025 fez previsão de que a União deverá financiar a instalação do CG-IBS, devendo o CG-IBS efetuar o ressarcimento dos valores financiados em 20 parcelas semestrais sucessivas, a partir de junho de 2029. Até este ressarcimento, o CG-IBS estará sujeito à fiscalização pelo Tribunal de Contas da União.

Conclusão

O CG-IBS será órgão fundamental à reforma tributária. Suas funções poderão facilitar os trâmites fiscais ao centralizar, de forma coordenada, a fiscalização e arrecadação do IBS, conjugando competências dos Municípios, Estados e DF em um só órgão administrativo.

Ademais, por ser o órgão responsável pela elaboração do regulamento único do IBS, terá fundamental relevância no dia a dia fiscal das empresas.

Agora será preciso acompanhar a instauração do CG-IBS permanente e, especialmente, a aprovação do regulamento único, a fim de que os contribuintes do IBS possam se preparar para esta nova fase tributária que será iniciada no país.

Carreira na Área Fiscal

Aumento do IOF – O que você precisa saber?

O tema relativo ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) tem estado nas manchetes de jornais e veículos de informação há alguns dias. Isto porque houve, inicialmente, aumento das alíquotas do mencionado tributo em diversas hipóteses (conforme decreto publicado dia 22 de maio de 2025) e, posteriormente, alteração das alíquotas em alguns casos (promovidas pelo Decreto nº 12.499 de 11 de junho de 2025).

Apresentaremos, neste artigo, as principais alterações promovidas recentemente. Acompanhe.

O que é o IOF?

O IOF é um tributo federal que incide sobre diversas operações, especialmente verificadas no âmbito financeiro. Como exemplo, o mencionado tributo pode incidir sobre operações de câmbio, de crédito (que englobam, inclusive, alguns tipos de contratos de empréstimo e mútuo), de seguros e sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários.

Assim, o aumento das alíquotas de IOF pode ter repercussão tanto em relação ao incentivo / desincentivo de remessas / ingressos de recursos no país, como no custo para que sejam operacionalizadas operações de crédito, por exemplo.

Considerando que o IOF também pode ser usado para fins extrafiscais, como incentivar ou desincentivar determinados fluxos financeiros, pode ter suas alíquotas alteradas, inclusive aumentadas, por meio de decreto, não sendo exigida lei em sentido estrito (ou seja, lei discutida e aprovada pelo Congresso Nacional) para tanto, por expressa previsão constitucional. Adicionalmente, o IOF não deve observar o princípio da anterioridade, que determina que criação ou aumento de tributos ocorram somente após um determinado lapso de tempo.

Por este motivo, foram feitas alterações nas alíquotas deste tributo por meio de decretos, que foram publicados com poucos dias de diferença um do outro.

Quais foram os atos recentemente editados, qual o contexto e quais as discussões?

No contexto da tentativa do Governo Federal de obter mais receitas para equilibrar o orçamento público, foi editado, primeiramente, o Decreto nº 12.466, de 22 de maio de 2025. No dia seguinte, foi publicado o Decreto nº 12.467, de 23 de maio de 2025.

Após grande repercussão no mercado e na mídia a respeito das alterações no IOF, o Governo Federal recuou e publicou o Decreto nº 12.499, de 11 de junho de 2025, voltando atrás em alguns pontos dos decretos anteriores, seja por meio de revogação, seja por meio de redução dos aumentos anteriormente implementados.

Posteriormente, o Congresso Nacional aprovou o Decreto Legislativo nº 176, publicado em 27 de junho de 2025, sustando, ou seja, suspendendo os efeitos dos Decretos nºs 12.466, 12.467 e 12.499. Suspensas as alterações promovidas pelo Governo Federal, foi reestabelecida a redação anterior do Decreto nº 6.306/2007, ou seja, sem aumento no IOF, portanto. Cabe ressaltar que é bastante incomum a edição de um Decreto Legislativo para suspender a eficácia de Decreto do Executivo.

Posteriormente, diversas ações foram propostas perante o Supremo Tribunal Federal (STF), questionando todas as alterações. A ADI 7839 questionou a constitucionalidade do Decreto Legislativo nº 176, a ADI 7827 questionou o aumento do IOF proposto pelo Governo, e a ADC 96 pediu que o STF confirmasse a validade dos Decretos que alteraram as regras do IOF.

O Ministro Alexandre de Moraes prolatou decisão, então, validando os atos publicados pelo Governo, derrubando, portanto, o Decreto-Legislativo que sustava o aumento do IOF, exceto em relação ao IOF sobre risco sacado. Assim, os aumentos de IOF em relação a todos os pontos não relacionados ao risco sacado voltaram a valer a partir da decisão do Ministro Alexandre de Moraes.

Apresentaremos, a seguir, as principais alterações propostas pelo Governo Federal.

Alterações do IOF-câmbio

O chamado IOF-câmbio, que abrange as diversas operações de câmbio, ou seja, conversão de moeda estrangeira em reais ou conversão de reais em moeda estrangeira, sofreu alterações com os decretos recentemente publicados.

Especificamente, destacamos as seguintes alterações:

  • o câmbio oriundo de redução de capital e para retorno de recursos ao investidor estrangeiro ficou sujeito à alíquota zero na redação do último decreto. Na redação que vigorou entre 22 de maio e 11 de junho, essas operações ficaram, nesse período, sujeitas à alíquota de 3,5%.
  • (a) operações sem regra específica (o que abrange, por exemplo, remessa a título de prestação de serviços ou remuneração de direitos), anteriormente sujeitas à alíquota de 0,38%; (b) remessas relacionadas a operações de emissores de instrumentos de pagamento relacionados a compra de bens e serviços e saques no exterior, anteriormente sujeitas à alíquota zero; (c) cheques de viagens, cartão pré-pago, também sujeitos à alíquota zero; (d) disponibilidades ao exterior e moeda em espécie, anteriormente sujeitas à alíquota de 1,1%: estão sujeitos agora à alíquota de 3,5%.

Há, ainda, algumas operações específicas que eram sujeitas à alíquota zero ou que eram consideradas isentas. Nestes casos, não houve alteração, ou seja, continua a ser aplicada a alíquota de 0% ou a isenção, exceto em relação aos mútuos de curto prazo.

Em relação a esses ingressos de valores do exterior, a título de empréstimos externos com prazo médio mínimo de repagamento de até 364 dias, a alíquota foi majorada para 3,5%. Anteriormente ao decreto de maio de 2025, estas operações eram sujeitas à alíquota 0%.

Alterações do IOF-crédito

Também o IOF incidente sobre operações de crédito sofreu alterações. O decreto de junho de 2025 reduziu a alíquota que havia sido aumentada pelo decreto de maio em diversas hipóteses. Apresentaremos a alíquota atual para cada operação.

  • Mútuos entre pessoas jurídicas: alíquota máxima ficou em 3,38%.
  • Antecipação a fornecedores (chamadas operações de risco sacado e forfait): alíquota máxima de 3% (no Decreto de maio, a alíquota máxima havia sido estabelecida em 3,95%). Ressaltando que, embora esse ponto conste do Decreto, está atualmente sustado pelo Decreto-Legislativo.
  • Simples Nacional (operações de até R$ 30.000,00): alíquota máxima de 1,38%
  • MEI (operações de até R$ 30.000,00): alíquota máxima de 1,38%.
  • Operações com cooperativas: ficam sujeitas a alíquota zero apenas se as operações globais forem inferiores a R$ 100.000.000,00.

Alterações do IOF sobre Títulos e Valores Mobiliários

Foi instituída a cobrança de 0,38% sobre o valor de aquisição primária de cotas de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC), inclusive em relação às aquisições realizadas por instituições financeiras. Esta tributação somente não será aplicada em relação a aquisição de cotas: (i) subscritas até 13 de junho de 2025, ou (ii) realizadas no mercado secundário. Anteriormente, o IOF nessas hipóteses era sujeito a alíquota zero.

Conclusões

Como já mencionado, após as alterações promovidas pelo Governo aumentando o IOF, o Legislativo sustou os aumentos por meio de Decreto Legislativo. Após, foram apresentadas diversas ações perante o STF questionando tanto as alterações promovidas no IOF, quanto a suspensão das alterações decidida pelo Congresso Nacional.

O relator dos casos, Ministro Alexandre de Moraes, determinou a suspensão do Decreto-Legislativo que havia sustado os efeitos dos Decretos que aumentaram o IOF, exceto em relação ao risco sacado, que permanece não aplicável temporariamente.

Embora os aumentos do IOF (com exceção do risco sacado) estejam válidos, é relevante ressaltar que a situação atual está embasada em uma decisão monocrática do Ministro Alexandre de Moraes, que será em algum momento analisada pelo STF, razão pela qual será relevante se atualizar sobre o tema, que vem tendo muitas reviravoltas ultimamente.

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